THAÍS NAZARIA | JANEIRO 2023
O Mercadão de Madureira fica localizado no tradicional bairro da zona norte do Rio de Janeiro, muito conhecido por seus eventos culturais que exaltam a cultura negra diaspórica. O empório é referência de consumo dos mais diversos gêneros e segmentos, que vão de ervas, doces, brinquedos, roupas, acessórios até artigos religiosos. Lá, encontra-se tudo e mais um pouco, seja atacado ou varejo, caro ou barato; o intuito do shopping popular é ser fonte de consumo para tudo que o cidadão suburbano carioca precise em dado momento. No fim de ano, isso não é diferente, já que são mais de 500 lojas distribuídas em três andares.
Com enfoque em atividades no setor terciário da economia, as lojas que existem dentro do Mercadão são empreendidas por pequenos e médios comerciantes, que moram no entorno do local ou em bairros vizinhos. Ou seja, muito do que é vendido é do agrado dos consumidores, já que os mercadores conhecem os seus hábitos de consumo e as tendências comerciais de fim de ano. Quem compra, mesmo sem ter ideia do que vai levar para casa, sabe que vai encontrar o que deseja. É isso que leva famílias inteiras a frequentarem o local durante os meses de novembro e dezembro.
Com a alta de vendas impulsionada pela época mais capitalista do ano, o Natal e o Ano Novo são responsáveis por manterem as lojas cheias – mais precisamente, superlotadas -, garantindo renda extra para quem vende, e um gasto extra para quem costuma comprar presentes para toda família. Além da tradição dos presentes, que não é algo específico do consumo carioca, há também, nessa época, a tradição – geralmente dos pertencentes da Classe C – de redecorar a casa inteira e definir uma “cor tema” para o ano seguinte.
Por ser um centro comercial muito diverso e acessível, as famílias que são da Zona Norte e da Baixada Fluminense vão ao bairro de Madureira em busca de satisfazer a procura por produtos de varejo. As roupas, artigos religiosos para a virada do ano, presentes para a família inteira – como dito no parágrafo anterior -, e tudo que traga uma renovação das energias do ano que está acabando é adquirido. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), neste ano de 2022, a época de fim de ano será responsável por injetar R$ 5,56 bilhões na economia do Estado e o Mercadão de Madureira é responsável por muitos desses números, já que foi o local escolhido pelos cariocas para a compra de lembrancinhas e presentes de Natal.
No artigo “Estratégias e táticas empreendidas nas organizações familiares do Mercadão de Madureira (Rio de Janeiro)”, os autores Alexandre Carrieri, Ivana Benevides, Juliana Teixeira e Mariana Mayumi falam sobre a impessoalidade do atendimento e sobre as relações interpessoais que surgem na prática comercial, que é específica do subúrbio. A simpatia dos vendedores e o preço que cabe no orçamento de quem compra, é um dos principais atrativos que fazem o shopping popular atrair muitos clientes, principalmente durante o fim de ano.
De forma amadora, nos últimos anos em que frequentei o Mercadão, sempre procurei observar o comportamento das pessoas e dos tumultos que se formam nas diversas lojas. O evento das compras de fim de ano, ao mesmo tempo que é estressante, tem um valor de tempo de qualidade muito importante para as famílias. Ao mesmo tempo que é possível notar as emoções negativas, também notamos o prazer da criança que ganha o brinquedo que esperava, e do responsável que sente orgulho de poder dar um presente do agrado de sua criança. Isso mostra que o consumo durante o Natal não é algo fútil, mas talvez o único momento do ano em que aquela família pode comprar tudo que precisa.
Um detalhe interessante é que, geralmente, o tratamento dos vendedores com os seus clientes atinge um certo nível pessoal muito agradável. Você se sente mais à vontade do queem um shopping, que geralmente é um lugar onde as camadas mais populares ainda têm muito receio de frequentar, já que são lugares de preconceito. Um comerciante que está vendendo o seu produto no Mercadão de Madureira tem a crença de que um cliente satisfeito irá retornar à sua loja. Diferentemente dos grandes empresários, um pequeno empreendedor depende exclusivamente de sua clientela.
Sendo assim, a análise feita sobre o consumo suburbano durante o fim de ano, no Mercadão de Madureira é pontual em justificar que não é somente o preço um atrativo para o aumento das vendas, mas também uma identificação e uma sensação de pertencimento dos consumidores, que existe devido à relação positiva que é cultivada com os pequenos empreendedores do local. O Mercadão de Madureira é um patrimônio comercial no histórico bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, que melhor representa a simplicidade e a simpatia carioca.
REFERÊNCIAS:
CARRIERI, Alexandre. et al. Estratégias e táticas empreendidas nas organizações familiares do Mercadão de Madureira (Rio de Janeiro). Revista Administração Mackenzie; SÃO PAULO, SP; V. 13, N. 2, p. 196 – 226, MAR/ABR, 2012.
“Compras de natal devem injetar 65 bilhões no comércio este ano”. Disponível em: https://noticias.r7.com/economia/compras-de-natal-devem-injetar-r-65-bilhoes-no-comercio-este-ano-12122022#:~:text=Mais%20da%20metade%20da%20movimenta%C3%A7%C3%A3o,%24%205%2C56%20bilh%C3%B5es). Acesso em 26/12/2022.
“Cariocas lotam CADEG e Mercadão de Madureira para as últimas compras de Natal”. Disponível em: https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2022/12/6545099-cariocas-lotam-cadeg-e-mercadao-de-madureira-para-ultimas-compras-de-natal.html. Acesso em 31/12/2022.
Este texto foi produzido pela aluna do 4º período de Relações Públicas, Thaís Nazaria, como tarefa do Estágio Supervisionado I – Laboratório de Comunicação, Cidade e Consumo, sob a supervisão da professora Adelaide Chao.