Tatiana Cioni Couto | Novembro 2022
Romances, álbuns e diários poemas, contos ou fábulas funcionam como mapeamentos e sensibilidades de espaços específicos do Rio de Janeiro, trazendo uma série de representações da época entre século XIX e XX .
Jaguaribe (1998) aponta a aparição da figura do público e do privado na obra de Raul Pompéia (em Ateneu) , a presença do subúrbio e da periferia e o Rio de Janeiro da Belle Époque em Lima Barreto (na obra Cemitério Vivo) e o relato da modernização urbana da cidade e a marca do estranhamento urbano (dilemas ricos e pobres) em Machado de Assis na obra Memorial de Aires.
Gomes concorda com Jaguaribe e aponta que poemas, livros, contos ou fábulas trazem valores simbólicos, história e mitos do lugar, perfazendo um retrato da cidade. A cidade se torna metáfora a partir do momento que há imbricação entre cidade-corpo e corpo-cidade.
O texto é o relato sensível das formas de ver a cidade, não enquanto mera descrição física, mas como cidade simbólica, que cruza lugar e metáfora, produzindo uma cartografia dinâmica, tensão entre racionalidade geométrica e emaranhado de existências humanas. (GOMES, 2008, p.24)
Gomes (2008) lembra que nas obras de Marques Rebelo há um Rio dos bairros e suas personalidades; nas de João do Rio o caos do Bota Abaixo da época de Pereira Passos, em Adelino Magalhães, o espetáculo de rua; em Rubem Fonseca uma cidade segregada e no poema “Retrato de uma Cidade” feito por Carlos Drummond sobre o Rio de Janeiro, há um Rio de Janeiro encantador, colorido, tropical, sensual e erótico.
O Rio de Janeiro da beleza e do caos é retratado assim em discursos simbólicos. Jaguaribe (1998) ressalta que as narrativas do Rio de Janeiro alcançam o ápice quando a cidade se torna capital do Brasil. As narrativas criadas eram para reverberar a imagem de uma cidade cosmopolita feita pela arquitetura francesa e pelas roupas inglesas. A criação do hino Cidade Maravilhosa é a consagração do Rio como símbolo do hedonismo tropical, onde a paisagem passa a ser objeto de degustação, aponta Jaguaribe.
Os discursos homogêneos da cidade ideal encontram, porém, na cidade carioca a pluralidade da cultura urbana popular, com as rodas de samba, casas do candomblé, carnaval e festas do subúrbio. O samba, a “mulata” e a alegria carnavalesca fazem parte da mistura racial e brasileira e do aspecto simbólico da cidade tropical, afirma Jaguaribe.
Referências Bibliográficas:
GOMES, R. C. Todas as cidades, a cidade: literatura e experiência urbana. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
JAGUARIBE, Beatriz. Fins de século, cidade e cultura no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1998