Eduardo Ribeiro | Fevereiro 2021

No ano de 2020, quatro drag queens foram convidadas para fazer parte do editorial de outubro da revista Vogue Brasil e estamparam a capa da revista. São elas: Pabllo Vittar, Gloria Groove, Halessia e Bianca DellaFancy. No dia 28 de setembro de 2020, a Vogue Brasil publicou a capa com as duas primeiras drag queens, as cantoras Pabllo Vittar e Gloria Groove. E, no dia 5 de outubro, o veículo divulgou a foto das outras duas drags, a youtuber e DJ Halessia e a youtuber e modelo Bianca DellaFancy, para fechar o quarteto.

As imagens são mega produzidas, profissionais e com bastante adereços. Sem dúvidas, é uma imagem polida, uma vez que passou por edições e rearranjos no Photoshop para ficar ainda mais bonita. Cada drag queen teve sua própria capa individualmente, e também foram feitos fashion films.

A capa é totalmente bem pensada, as cores e a estética chamam a atenção. Uma coisa em comum nas quatro capas é a pose que todas as modelos estão fazendo, com as mãos elevadas ao rosto. Sem contar que todas possuem adereços, roupas e acessórios da marca mundialmente famosa, Gucci. Todas as fotos foram feitas pelo fotógrafo Hick Duarte e com a mesma equipe para edição de moda e cabelo, Pedro Sales e Henrique Martins, respectivamente.

Certamente, é um choque para a sociedade as drag queens, que eram marginalizadas, mortas e que viviam excluídas da sociedade, passarem a ocupar novos espaços na comunidade. E não qualquer espaço, mas um espaço de poder e alto escalão ao serem capas de uma das maiores revistas do mundo, a Vogue. Evidentemente, é uma vitória enorme para elas e também para o público lgbtqia+.

Essas capas são um marco em termos de representatividade, mostrando que é possível ser quem você quiser e um dia você chega lá, alcança seus ideais, seus objetivos, seus sonhos. Drag queens na capa de uma revista tão tradicional como a Vogue, em um país tão preconceituoso quanto o Brasil, faz com que as pessoas acreditem que tudo é possível, e que não há nada de errado em ser diferente.

Assim como no texto “Imagem Polida e Imagem Poluída” de Marcos Martins, devemos levar em consideração cada etapa que a capa da revista passou até chegar no seu produto final. Ou seja, todos os retoques e manipulações que a imagem original sofreu para se tornar um produto comercializado. Os processos que a fotografia passou acabam saciando a vontade do consumidor com algo belo, sensual, colorido e esteticamente agradável. Outro fator decisivo é o título “Eleganza Extravaganza” que está presente em todas as capas, fazendo referência ao drag, à moda, mas principalmente à arte. Estamos falando de uma capa icônica, atemporal, com as primeiras drag queens a saírem na revista.

Além do texto “Imagem Polida e Imagem Poluída”, é possível fazer uma breve referência ao texto “A Retórica da Imagem e a Mensagem Fotográfica”, de Roland Barthes, visto que a revista está vendendo mais do que aquela capa, está vendendo sonhos. Para todos aqueles que se identificam como lgbtqia+ ou fazem a arte do drag, ter alguém igual a você ganhando espaço na grande mídia faz que mais pessoas mudem sua visão preconceituosa e passem a aceitar mais esses indivíduos.

A drag queen que antes era associada à prostituição, drogas, e vagabundagem, agora está sob nova perspectiva. Hoje podem ser vistas como artistas, performers, cantoras, DJs, modelos e até mesmo símbolo de resistência. Elas são pessoas comuns que são capazes de entregar excelentes trabalhos se lhes for dada uma oportunidade.

As drag queens vêm ganhando bastante espaço na mídia e na sociedade. Nos Estados Unidos, por exemplo, desde 2009 tem um programa chamado RuPaul’s Drag Race, apresentado pela drag queen Rupaul, que tem como objetivo apresentar as drags para o mundo e tornarem sua arte conhecida no país. Além disso, o show televisivo concede o título de “American Drag Superstar” e uma quantia em dinheiro à vencedora. O programa é uma espécie de talk show em que as drags participam para ver quem é a melhor dentre elas. E segundo a apresentadora Rupaul, as participantes precisam ter “charisma, unique, nerve and talent”.

No Brasil, as drag queens começaram a ter um reconhecimento maior, ganhando notoriedade quando, em 2017, viralizou um hit de carnaval intitulado “Todo dia” da drag queen e cantora Pabllo Vittar. De lá para cá, a drag abriu caminho para outras artistas e performers do mundo Drag, fazendo campanhas como garota propaganda para a Coca Cola, Adidas, Calvin Klein e outras marcas, e saindo em muitas capas de revistas.

Analisando as legendas das fotos postadas pela Vogue em suas plataformas digitais (Instagram), é possível observar como existe um respeito e admiração na forma como as drags estão sendo apresentadas. As matérias trazem suas falas, informações sobre suas profissões, seus desejos, suas carreiras, seus hits. Os conteúdos jornalísticos as tratam como as profissionais que realmente são.

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Eduardo Ribeiro é estudante de Jornalismo na UERJ e estagiário no Lacon.

 

Referências bibliográficas:

BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

MARTINS, Marcos. Imagem polida, imagem poluída: artifício e evidência na linguagem visual contemporânea. Lugar Comum, n. 29, Rio de Janeiro, pp. 267- 284. Disponível em: <http://uninomade.net/wp-content/files_mf/110610120251Imagem%20polida%20Imagem%20poluida%20-%20Marcos%20Martins.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2021.

 

Links das revistas publicadas na mídia (Instagram):

https://www.instagram.com/p/CFre8qaFrQH/
https://www.instagram.com/p/CFrl0zzFDWq/
https://www.instagram.com/p/CF9gglelmye/

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