Rafael Nacif de Toledo Piza | Setembro 2020

Depois de uma ausência de alguns anos, que teve seu início com o lançamento da era “Joanne”, Lady Gaga retorna ao mercado pop que a consagrou com clássicos como “Born this way” e “Telephone”, lançando seu ambicioso novo álbum “Chromatica”, no dia 29 de maio de 2020, em meio ao pânico causado pela pandemia de Covid-19. O lançamento do álbum certamente sofreu com a primazia da pandemia nos veículos de comunicação. Mesmo assim, tentaremos, a seguir, fazer uma análise faixa-a-faixa do novo trabalho da cantora.

O CD tem início com a faixa “Chromatica I”, uma introdução instrumental ao novo mundo criado por Lady Gaga neste trabalho. O interlúdio, que prenuncia o primeiro ato do CD, cria um ambiente cinematográfico para o ouvinte. A segunda faixa “Alice”, já leva os ouvintes para a pista de dança, onde Gaga repete que seu nome não é Alice, mas que ela continua procurando o país das maravilhas. Aqui, temos uma demonstração do que está por vir em “Chromatica”, um álbum feito para agradar o gosto do público LGBTQI+ com quem ela tanto se identifica.

A terceira faixa é “Stupid love”, o primeiro single que ela já havia lançado em janeiro provocando rebuliço nas redes sociais e junto aos little monsters, seus mais devotos fãs. No clipe, Gaga executa a coreografia em meio a um ambiente ao estilo Mad Max, no qual ela seria a pacificadora diante de diferentes grupos sociais, identificados por insígnias.

A quarta faixa e segundo single, “Rain on Me”, mostra Gaga retomando o repertório estético que a tornou famosa, em parceria com a jovem cantora Ariana Grande. A faixa fala sobre dependência de substâncias alcoólicas, enquanto uma chuva de adagas ameaça sua sobrevivência e a de seus bailarinos. O figurino é todo feito em vinil rosa choque com manchas de óleo de cor preta, com direito a muita chuva e cabelo molhado. Ela afirma no coro: “preferiria estar seca, mas ao menos estou viva, que chova em mim”. As duas executam a coreografia durante uma tempestade que molha completamente Gaga.

Na faixa seguinte, “Free woman”, Lady Gaga exalta as vantagens do feminismo que teria libertado as mulheres do patriarcado e do machismo. A faixa segue o teor dançante e de auto-ajuda do resto do álbum. Em “Fun tonight”, Lady Gaga afirma que, apesar de enfrentar muita dor e muita depressão, ela sente o ímpeto de se divertir naquela noite, independente dos papparazzis que a fazem se sentir objetificada.

Emerge um segundo interlúdio sinfônico-cinematográfico que introduz o segundo ato do CD. Na faixa 911, Lady Gaga faz um discurso sobre as situações de emergência que ela mesma coloca contra si própria. 911 é o telefone para emergências nos EUA. Em “Plastic doll”, Gaga revela que se sente como uma espécie de produto para ser consumido em massa, como uma boneca de plástico, uma espécie de Barbie com cabelo loiro, lábios de cereja e microchipada para atender aos desejos de brincar de um homem qualquer. Ela revela que isso a machuca.

A seguir, temos a super dançante faixa em parceria com o grupo de K-Pop BLACKPINK “Sour candy”. A letra da música demonstra que ela pode parecer dura por fora, mas por dentro ela tem sentimentos genuínos. Em “Enigma”, Lady Gaga continua sua jornada de auto-descoberta dançante propondo um quebra-cabeça aos ouvintes. “Enigma” foi o título da residência que Lady Gaga manteve em Las Vegas durante alguns anos. Em “Replay”, ela diz que o monstro dentro do ouvinte a está castrando e que ela não sabe o que fazer. Que essa tortura se repete indefinidamente e que a machuca psicologicamente.

Surge o terceiro interlúdio, Chromatica III, abrindo o terceiro ato do álbum. Agora, ela, em parceria com Elton John, canta sobre sua busca espiritual e emocional. A faixa é finalizada com um trecho jungle. Em “1000 Doves”, Lady Gaga revela que não é perfeita, mas que enquanto ampara o choro do ouvinte, diz que têm voado com uma asa quebrada, mas que pode ter o poder de mil pombas. A faixa é bem dançante, repetindo a receita do house dos anos 1990. Em “Babylon”, a faixa que encerra “Chromatica”, Gaga exalta os ouvintes a batalharem por suas vidas em meio ao império de fofocas e mentiras do mundo da música pop.

Segundo o New York Times, faltou a presença de Lady Gaga em “Chromatica”. Não é a nossa avaliação. Ela conseguiu fazer um disco pop da mais alta qualidade em meio a tantos lançamentos que decepcionaram os fãs, como “Daysies”, da Katy Perry. Ser uma estrela pop internacional não é nada fácil. Os próprios fãs são muito críticos com relação aos lançamentos de seus artistas.

O mundo maravilhoso de ‘Chromatica’