Lucas Martins | Julho 2020

Em tempos de quarentena, a qual prefiro chamar de atravessamento, acredito que atravessar se reinventando seja a melhor opção. Me chamo Lucas Martins, tenho 19 anos e sou calouro de jornalismo da UERJ. Confesso que estar aqui escrevendo sobre isolamento social, atravessamentos e o fato de ser calouro da melhor do Rio não era algo que eu imaginava há alguns meses. 2020 tem sido um ano e tanto. As emoções começaram já cedo. Seja quando tive de escolher entre ingressar na UERJ ou na UFRJ, seja no questionamento de estar decidindo de modo assertivo a carreira a qual seguiria pelo resto da minha vida, 2020 já mostrou que não seria um ano de muitas flores.

Eu, por outro lado, decidi fazer com que fosse um ano bem florido. Ou melhor, bem verde. Acabei entrando na estatística dos milhares de brasileiros que alternaram seus focos de consumo, enchendo a casa de muitas plantinhas. Meu quarto transformou-se em uma grande selva. A cada volta minha do mercado, uma planta nova chega junto. Esse “tornar verde” é o que tem me colocado nos eixos. Ou seja, reduzido a minha ansiedade. Cuidar das plantas é a atividade que mais me faz saber lidar com a angústia de querer estar nos lugares antes permitidos e agora não.

Com a chegada da pandemia, houve uma grande quebra de expectativa e um banho enorme de água fria não só em mim, como, acredito, em grande parte dos calouros de toda a faculdade. Muitos de nós tentamos, cada um da sua maneira, superar isso de forma leve. Além de todo o matagal que compõe o meu quarto (risos), escrever e me imergir no universo da arte também é o que tem me distraído. Entre as vozes de Caetano, Gil, Bethânia, Gal e Alceu, os artistas que mais ouço, escrevo textos e poesias. Melhor dizendo, ebulições. Alguns sobre amores, outros sobre a vida, uns sobre partidas… Guimarães Rosa disse que viver é um “rasgar-se e remendar-se”. Ouvindo músicas, escrevendo e cuidando diariamente das plantas, é que me rasgo totalmente e começo a me remendar, conhecendo, a cada dia, um novo Lucas.

Espero ansiosamente que os abraços possam ser renovados, os sorrisos sejam vistos, de maneira plena, em todos os rostos e que as rampas da UERJ ganhem de volta seu fluxo de pessoas subindo e descendo, todos os dias, certas de que valeu a pena esperar e não só cuidar de si, como também dos outros. Enquanto aguardo por esse sonhado momento, sigo escrevendo, ouvindo meia dúzia de músicas e cuidando das plantinhas que gosto.

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Lucas Martins é aluno do primeiro período do curso de Jornalismo da UERJ e se considera amante da vida, das cores e das plantas.

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