Carli Storino | Junho 2020

 

“A bicicleta não é (só) um instrumento de inclusão social. Ela é um instrumento de inclusão espiritual”
Gilberto Dimenstein – Ciclista e jornalista (in memoriam).

 

“Acho que a bicicleta vai ser um dos meios de transporte (mais) importantes do mundo”

Viktor Elbling – Ciclista e Embaixador alemão na Cidade do México, que pedala diariamente para o trabalho.

 

Viktor Elbling, Ciclista e Embaixador alemão na Cidade do México, que pedala diariamente para o trabalho.

 

3 de Junho – Dia Mundial da Bicicleta

Muitas são as datas que celebram a bicicleta e os ciclistas pelo Brasil e o mundo (leia mais no post “Dia da Bicicleta e do Ciclista”), mas uma decisão da Assembleia Geral da ONU, de 12 de abril de 2018, oficializou 3 de junho como Dia Mundial da Bicicleta. A data foi criada para promover as magrelas como “veículo” simples, barato e bom para o meio ambiente e o lazer, alçando-as a símbolo mundial do transporte sustentável.

A declaração aprovada pelas Nações Unidas convida seus Estados Membros e interessados a dedicar atenção especial à bicicleta, incluindo-a em suas políticas e programas de desenvolvimento internacionais, nacionais e regionais. A ONU sugere, ainda, que os países considerem esse meio de transporte, ao criar medidas de infraestrutura e melhoria de rodovias para prevenir acidentes.

Vice Presidente da Índia, Shri M. Venkaiah Naidu, interage com estudantes, durante pedalada comemorativa pelo Dia Mundial da Bicicleta 2018, em Nova Deli.

 

Após o anúncio, o Secretário Geral da Federação Europeia de Ciclistas – ECF, Bernhard Ensink, declarou que “andar de bicicleta é uma fonte de benefícios social, econômico, ambiental e isso aproxima as pessoas”. Felizes com a decisão da ONU, a World Cycling Alliance – WCA e a ECF afirmaram que a data reconhece a contribuição do ciclismo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”. Já em 2015, WCA e ECF entregaram um documento às Nações Unidas, demonstrando que bicicleta e ciclismo atendem a, pelo menos, 12 dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável intitulado “Ciclismo nos Objetivos Globais”. Nada mal.

Segundo a ONU, as bikes, utilizadas há mais de 200 anos, geram grandes benefícios para a saúde física e mental de quem pedala. A entidade acredita que “a sinergia entre bicicleta e usuário cria uma conscientização imediata sobre o meio ambiente”.
Consultor do Banco Mundial e ex-atleta da Equipe Olímpica de Ciclismo da Polônia, Leszek Sibilski liderou a campanha, que promoveu a Resolução da ONU para o Dia Mundial da Bicicleta e ganhou o apoio de 57 países. A logomarca da comemoração é inclusiva e retrata ciclistas de várias modalidades, pedalando ao redor do mundo. A intenção da logo é mostrar que as bikes pertencem e servem a toda humanidade. Além disso, pedalar não polui a atmosfera e causa um impacto positivo no clima.

 

BICICLETA E PANDEMIA

Quando a gente pensa em “surpresa”, em geral, nos vem à mente algo “positivo”, mas o fim de 2019 nos reservou algo não tão bacana assim….. E ele atingiu literalmente o MUNDO INTEIRO.

Algo que sequer conseguimos ver a olho nu, o vírus COVID-19 simplesmente virou nosso planeta de cabeça pra baixo, trazendo luto e muita tristeza a milhares de famílias, além de enormes mudanças, que deverão transformar nossas vidas por muito tempo. Minha opinião? Acho que, assim como as pestes mundiais, a Revolução Industrial, as 2 Grandes Guerras, a Quebra da Bolsa de NY em 1929 e o 11 de setembro, talvez possamos dividir a humanidade entre antes e depois dessa pandemia. Quero muito viver pra ver o que será de todos nós, sempre com grandes esperanças de um mundo melhor.

Mas nosso assunto aqui é bicicleta e ela tem exercido papel muito importante nesses tempos de isolamento. Com a população forçada a ficar em casa, entregadores têm sido fundamentais na entrega de compras, remédios e demais itens fundamentais a nossa sobrevivência. São pessoas que têm arriscado sua saúde, para trazer insumos necessários à população. Viva eles!!! Muitos usam bikes compartilhadas como meio de transporte e encontraram uma boa oportunidade para substituir renda e trabalho perdidos, nesse momento de economia tão incerta.

No Brasil, as regras para uso das magrelas não têm sido tão rígidas, mas a recomendação é não utilizá-las para atividade física, mesmo pedalando sozinho. Ótima solução para locomoção com distanciamento físico, elas evitam o possível contato com superfícies contaminadas no transporte coletivo, pois é pedalar requer certa distância entre ciclistas.

 

Ciclista pedala diante de pintura num muro na Cidade do México. Imagem: CARLOS JASSO/REUTERS (Fonte: Blog da Milo Araújo no UOL).

 

No momento, o uso das bikes ainda deve ser restrito para meio de transporte necessário e não pra lazer. Respeitar o distanciamento físico, ficar em casa o máximo possível e obedecer protocolos de higiene são atitudes essenciais. O site da UCB – União de Ciclistas do Brasil lista várias recomendações para o uso das bikes durante a pandemia. Fica a dica (veja mais em http://uniaodeciclistas.org.br/geral/coronavirus-cuidados-1/).

Mas como será o mundo pós-pandemia? Na falta de bola de cristal, fica difícil prever o futuro em todas as áreas, mas já vemos movimentos muito positivos em políticas de incentivo ao uso das nossas queridas bikes. Como bem definiu O Globo no título de uma matéria recente, “Diante da pandemia, a Europa sobe na bicicleta”. De fato, alguns países têm incentivado o uso das magrelas, criando e aumentando ciclofaixas temporárias, entre outras ações. Seguem algumas delas:

 

REINO UNIDO:
O planejamento de Londres estima aumentar em dez vezes a utilização de bicicletas em ciclovias. A cidade deverá reformar suas ruas após o bloqueio do coronavírus. A ideia é alargar calçadas em locais de grande circulação de pessoas, permitindo um maior distanciamento social.

Em maio passado, o governo britânico anunciou um investimento de 2 bilhões de libras (cerca de R$ 14,23 bilhões) até 2025. O objetivo é impulsionar o uso da bicicleta e a caminhada como meios de deslocamento mais seguro, na volta ao trabalho pós-pandemia. As verbas serão investidas na melhoria de vias para ciclistas, de estradas públicas e no teste de scooters elétricos, incentivando a mudança de hábitos da população a longo prazo. Parte desses recursos será usada para criar ciclovias temporárias “em algumas semanas” ou expandir as existentes.

Iniciativas semelhantes foram lançadas em outras cidades europeias, como Bruxelas, Berlim e Barcelona, que planejam construir 40, 22 e 21 quilômetros de pistas adicionais, respectivamente, muito em breve.

 

ITÁLIA:
Esse país europeu com mais carros por habitante está adotando o ciclismo em proporções nunca vistas desde a Segunda Guerra Mundial. 150 quilômetros de ciclovias foram planejados na capital. Essa transformação deverá mudar a aparência de Roma, hoje intransitável e perigosa para quem pedala.

O governo italiano aprovou ainda um projeto, que concede bônus de até 500 euros (cerca de R$ 3,1 mil) para ajudar moradores de cidades com mais de 50 mil habitantes a comprarem uma bike.

 

FRANÇA:
Em Paris, a prefeita Anne Hidalgo criou normas para evitar engarrafamentos e estimular a circulação de bicicletas. Foram instalados mais estacionamentos nos limites da capital, para quem vem do subúrbio. Assim, a população pode deixar seu carro ou a bicicleta compartilhada e usar o transporte público. Outra alternativa será caminhar até seu destino final. Também já foram criados 50 quilômetros de ciclovias temporárias na cidade.

 

Investimentos como esses traduzem a importância das bicicletas diante da pandemia. A nova loucura pelas magrelas também tem impulsionado as empresas do setor. Michael Nendwich, da Câmara Econômica da Áustria, afirma que as vendas de bikes, sobretudo as elétricas, e os pedidos de conserto dispararam desde a reabertura das lojas, em meados de abril. Na França, a varejista Go Sport aumentou suas vendas online de bicicletas em 300% e no Reino Unido, segundo a Associação de Revendedores de Bicicleta, cerca de 20 mil bikes “já estão vendidas ou reservadas”.

UFA! Pelo menos algumas notícias boas para as cidades e o meio ambiente, durante tempos tão difíceis. Ficamos aqui na torcida, para que essa onda não seja temporária e que tenha vindo para ficar. Mas principalmente, todo nosso pensamento positivo para que essa fase passe logo. Que a humanidade resista bem ao vírus e que o mundo se transforme em um lugar melhor para todos nós, ciclistas ou não.

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Carli Storino é mestranda em Comunicação pelo PPGCom da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e criadora da marca Magrelas Cariocas.

https://www.facebook.com/MagrelasCariocas/
https://www.instagram.com/magrelascariocas/

 

Referências:

ABRADIBI. Reino Unido investirá na bicicleta para facilitar volta ao trabalho após a pandemia. Associação Brasileira da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios – Abradibi [site], 11 mai. 2020, online. Disponível em: <http://www.abradibi.com.br/noticias/mobilidade/reino-unido-investira-na-bicicleta-para-facilitar-volta-ao-trabalho-apos-a-pandemia>.

ABRADIBI. ONU declara o 3 de junho como Dia Mundial da Bicicleta.. Associação Brasileira da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios – Abradibi [site], 18 abr. 2018, online. Disponível em: <http://www.abradibi.com.br/noticias/mobilidade/onu-declara–o–3-de-junho-como-dia-mundial-da-bicicleta#:~:text=ONU%20DECLARA%20O%203%20DE,no%20passado%2012%20de%20abril>.

AFP e Ansa. Diante da pandemia, a Europa sobe na bicicleta. O Globo, 14 mai. 2020, online. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/diante-da-pandemia-europa-sobe-na-bicicleta-24426403>.

ARAÚJO, Milo. Bicicletas e o mundo pós pandemia. Ecoa, UOL, 4 mai. 2020, online. Disponível em: <https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/milo-araujo/2020/05/04/bicicletas-e-o-mundo-pos-pandemia.htm>.

BIKE É LEGAL. “A bicicleta e a cidade sob a ótica de Gilberto Dimenstein” [vídeo]. Bike é legal (portal do YouTube), 29 mai. 2020, online. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kzEdLzazqL4>.

JORNAL BICICLETA. Hoje é Dia Mundial da Bicicleta. A ONU criou a data em 2018 pois bicicleta é poder de transformação. Jornal Bicicleta, 3 jun. 2019, online. Disponível em: <https://jornalbicicleta.wordpress.com/2019/06/03/hoje-e-dia-mundial-da-bicicleta-a-onu-criou-a-data-em-2018-pois-bicicleta-e-poder-de-transformacao/>.

O GLOBO. França volta às ruas após 55 dias. O Globo, dia 12 de maio, página 8.

ONU NEWS. Primeiro Dia Mundial da Bicicleta é celebrado neste domingo. ONU News, 2 jun. 2018, online. Disponível em:  <https://news.un.org/pt/story/2018/06/1625611>.

UNIÃO DE CICLISTAS DO BRASIL. Coronavírus: “Cuidados ao utilizar a bicicleta como meio de transporte”. União de Ciclistas do Brasil -UCB [site], 3 abr. 2020, online. Disponível em: <http://uniaodeciclistas.org.br/geral/coronavirus-cuidados-1/>.

WIKIPÉDIA. Dia Mundial da Bicicleta [verbete], online. Disponível em:  <https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_Bicicleta#:~:text=O%20Dia%20Mundial%20da%20Bicicleta,e%20lazer%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas>.

Bicicleta e pandemia