Por Flávio Lins | Julho 2019

Ao tratar dos produtos da indústria cultural, o escritor Edgar Morin chama nossa atenção para que “a cultura de massa […] dá forma à promoção de valores juvenis”.  Sua máxima é “sejam belos, sejam amorosos, sejam jovens” (MORIN, 1997, p.157). Para ele, um dos elementos fundamentais da nova cultura é a temática da juventude. Morin acredita que “todo impulso juvenil corresponde a uma aceleração da História: porém, […] numa civilização em transformação acelerada como a nossa, o essencial é não mais a experiência acumulada, mas a adesão ao movimento” (MORIN, 1997, p.147).

Michel Maffesoli (2005) também destaca a estigmatização da atitude ou cultura jovem nas sociedades, que passa a orientar os costumes. Para o autor, o “juvenilismo” “não está limitado simplesmente a um problema geracional, mas a uma função contaminadora” (2005, p.13). Segundo Maffesoli, a “eterna criança” tornou-se uma figura emblemática do contemporâneo, orientando os costumes e influenciando na avaliação do bem e o mal. Os “pequenos bandos” fixam suas próprias leis.

Ficar eternamente voltado à juventude também é a nova pulsão destacada por autores como Lipovetsky (2004, p.80) e Le Breton (2002, p.53), para quem essa promoção da juventude se impõe, especialmente, no ambiente cultural dos nossos dias.

E se o ideário de juventude passa a ser modelo para a sociedade o que dizer da força de suas representações num mundo que testemunha a explosão das imagens?  Maffesoli (2005) acredita que a imagem, tornando visível, pode se converter em um sacramento, servindo de polo agregador para as variadas tribos que fervilham no contemporâneo. E se vivemos um reencantamento de mundo, as imagens, que no passado foram colocadas à distância pela técnica e pela ciência, agora, nos religam ao mundo que nos cerca e àqueles que a compartilham.

Rita de Cássia Oliveira (2007) chama nossa atenção para que hoje, todas as grandes cidades têm áreas ocupadas por jovens, transformadas em espaços de lazer ou vida noturna. Os jovens, que através das escrituras modernas, como pichações, grafites e até mesmo com seus corpos inscrevem-se no cotidiano da cidade, deixam sua marca indelével. Para Oliveira, “nas cidades, no final do século XX, as intervenções urbanas trazem o mais recente capítulo dessa grafologia recheada dos imaginários juvenis” (2007, p.70). Mesmo tendo sido escritas no final do século passado, acreditamos que ideias da autora são adequadas para demonstrar a visibilidade destas comunidades efêmeras no mundo contemporâneo.

Oliveira destaca ainda a importância que os corpos e sua aparência assumem nas andanças dos jovens pela cidade, como forma de “reconhecimento, singularidade e pertencimento” (2007, p.76). Para ela, “a vida metropolitana trouxe, especialmente entre os jovens, uma cultura essencialmente imagética alavancada pela tecnologia e pelo consumo” (2007, p.76).

Em ascensão, o registro e o compartilhamento de imagens não é um fenômeno restrito aos jovens, ainda que estes sigam como seu motor, podendo sinalizar para que o homem contemporâneo segue em busca da fonte da juventude, no momento, disponível na palma da mão e ao alcance de poucos cliques.

 

Referências:

LE BRETON, David. As Paixões Ordinárias. Antropologia das Emoções. Petrópolis: Vozes, 2009.

LIPOVETSKY, Gilles. Memorfoses da cultura liberal: ética, mídia, empresa. Porto Alegre: Sulina, 2004.

MAFFESOLI, Michel. Cultura e comunicação juvenis. In: Comunicação, mídia e consumo, vol. 2. São Paulo, 2005.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: O espírito do tempo 1: Neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.

OLIVEIRA, Rita de Cássia Alves. Estéticas juvenis: intervenções nos corpos e na metrópole. In: Comunicação, mídia e consumo, vol. 4. São Paulo, 2007.

Juventude e imagens