Por Ana Clara Camardella | Julho 2019

Você já ouviu falar de memes? Sabe o que essa pequena palavra significa? Todo usuário da internet que visita blogs, fóruns, possui um endereço de email ou um perfil nas redes sociais já se deparou com um meme. Sabe aquela imagem com letras garrafais fazendo referência, muitas vezes de forma irônica, a uma situação do cotidiano ou a algum conteúdo de conhecimento geral que é compartilhada diversas vezes? Ou aquele gif que tomou conta do seu “feed de notícias”? Tais exemplos configuram o que se entende por memes.

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Não deu pra pegar?! Mas, e sobre a Nazaré confusa, você já ouviu falar? Esse é um dos grandes exemplos de memes que tomou uma enorme proporção de compartilhamento. O meme, caracterizado por uma imagem ou gif da personagem Nazaré Tedesco  (interpretada pela atriz Renata Sorrah) da novela global “Senhora do Destino” (2004), surgiu no Twitter e logo depois passou a ser compartilhado por páginas de humor do Facebook.

Tanto na forma de montagem ou gif, o meme segue o mesmo padrão de construção de humor, sempre fazendo referência a uma situação de confusão mental. Normalmente o meme é acompanhado por frases que representam algo que deixam as pessoas confusas ou indecisas, como por exemplo: “Escolhe você” ou “Que filme você quer assistir na Netflix?”.

Para ter noção da difusão do conteúdo, no final de 2016, o meme ultrapassou as barreiras nacionais e passou a ser compartilhado também por usuários de outros países, sobretudo dos Estados Unidos. Lá fora, o meme segue a mesma lógica daqui, mas ficou conhecido como “Math Ladie” (moça da matemática) ou “Confused Blonde” (loira confusa).

O exemplo ilustra o papel do internauta brasileiro na criação e difusão de memes. O Brasil é considerado um dos países que mais criam e compartilham memes nas redes sociais. Viu, só?!

Mas por que os memes da internet viralizam?

Os memes têm como principal finalidade divertir os internautas e, em sua maioria, são criados por usuários comuns da web. O conceito de cultura da participação de Clay Shirky (2011) trabalha com a ideia do crescimento da produção de conteúdos por amadores, o que propicia um cenário para a maior propagação dos memes.

A crescente participação dos usuários na criação de conteúdo contribui para que o ciberespaço se torne cada vez mais favorável para a disseminação dos memes. As interações estabelecidas entre os internautas propiciam a replicação dos conteúdos, elevando a propagação e a popularidade dos mesmos no ambiente virtual. Uma vez viralizado, um meme, pode desencadear mutações de seu próprio conteúdo, reiniciando, assim, novos ciclos de replicações pela web.

Autores como Richard Dawkins e Susan Blackmore se dedicaram a conceituar meme antes mesmo do fenômeno atingir a internet, inclusive Dawkins foi o criador do termo que conhecemos. Em resumo, a ciência da memética entende como meme tudo aquilo que pode ser aprendido através da repetição/imitação e por isso, o meme da internet assumiu esse nome e possui caráter viral. Se você curte memes, vale a pena dar uma olhada nas obras “O Gene Egoísta” (1976) e “The meme machine” (2000).

E por que dar atenção a este fenômeno?

Mesmo sendo caracterizado como trash, devido a sua essência humorística e estética grotesca (PRIMO, 2007), a sua capacidade de propagação tem chamado a atenção não só dos usuários das redes sociais, mas também de marcas e instituições.

Inúmeros são os exemplos de grandes empresas que se apropriam da linguagem dos memes para atrair a atenção do público, dentre elas podemos citar Netflix, McDonald’s e Globo (tem muito mais, tá?!). Inclusive, na última premiação da Mtv no Brasil (Mtv Miaw 2019), que aconteceu no dia 03 de julho de 2019, uma das categorias de prêmio foi a de “melhor memeiro”. Vale destacar ainda que, no âmbito da política, os memes também assumiram um lugar de destaque, principalmente nas eleições presidenciais de 2014 e 2018. Quem não lembra do meme da Ursal? (se você não lembra, vale pesquisar sobre).

E por fim, na academia, o assunto também está sendo bastante falado. É considerável o número de publicações nas quais utilizam os memes como objeto de pesquisa. Devido a isso, a Universidade Federal Fluminense criou, em 2011, o Museu dos memes “projeto que congrega ensino, pesquisa e divulgação científica. Seu objetivo é a construção de um acervo de referência para pesquisadores e interessados no universo dos memes”¹. O projeto é uma realização do programa de extensão “Polo de Produção e Pesquisa Aplicada em Jogos Eletrônicos e Redes Colaborativas” (P³) e do Laboratório de pesquisa em comunicação, culturas políticas e economia da colaboração (coLAB) e define meme como:

meme (uma abreviação do grego μίμημα [míːmɛːma]) · é um fenômeno típico da internet, e pode se apresentar como uma coleção de textos, imagens, comportamentos difundidos, desafios ou memórias compartilhadas. memes são geralmente efêmeros mas no #MUSEUdeMEMES eles se tornam memória²

Por essas e outras, estar atento ao que está sendo falado na rede, é de extrema importância na era digital.

Referências:

BLACKMORE, Susan. The meme machine. Oxford: Oxford University Press, 2000.

DAWKINS, Richard. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. (A edição original é de 1976)

SHIRKY, Clay. A Cultura da Participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

PRIMO, Alex . Digital trash e lixo midiático: A cauda longa da micromídia digital. In: Vinicius Andrade Pereira. (Org.). Cultura Digital Trash: Linguagens, Comportamentos, Entretenimento e Consumo. Rio de Janeiro: ePapers, 2007, v. , p. 77-93.

Museu de memes: <http://www.museudememes.com.br/>.

 

¹Informação retirada do Facebook oficial do Museu dos memes: <https://www.facebook.com/museudememes/>. Acesso 30 jul. 2019

²Informação retirada do site oficial do Museu dos memes: <http://www.museudememes.com.br/>. Acesso 30 jul. 2019

 

Oi tutupom? A linguagem dos memes e seu potencial de viralização