João Carlos Calzavara | Agosto 2022

 

“Thor: Amor e Trovão” é o último filme da Marvel em cartaz e o quarto desse herói, estrelado nas telonas por Chris Hemsworth. A direção ficou por conta de Taika Waititi, que também foi o encarregado do terceiro longa – “Thor: Ragnarok” (2017). Além de Chris, “Thor” também conta com grandes nomes como Natalie Portman (Jane Foster) e Christian Bale (Gorr). 

Após cinco anos desde o lançamento de Ragnarok, era grande a expectativa dos fãs para uma nova aparição solo de Thor. A Marvel, que já iniciou a tão falada 4ª fase de seu universo, iria finalmente continuar a história do loiro nórdico. A despeito de toda ansiedade que se tinha para o filme, pode-se admitir que sua nota foi fraca, levando em consideração as inúmeras críticas após seu lançamento, ainda que em países como o Brasil ele permaneça em primeiro lugar no ranking de mais assistidos até o presente momento.

Para iniciar uma crítica mais aprofundada do filme, precisa-se destacar um problema, na minha opinião, que acompanha a saga do herói desde – “Thor Ragnarok” (2017), ou mais precisamente, desde que Taika Waititi assumiu a direção das obras. Acredito que pode variar de pessoa para pessoa, gostos e gostos, mas presumo ser um tanto arriscado o excesso de momentos de alívio cômico que a narrativa apresenta. Em “Thor: Amor e Trovão”, é muito perceptível que o filme abusa do lado cômico, de falas de efeito voltadas para criar a sensação de humor, quase sempre impedindo uma projeção um tanto mais séria para os personagens, como, por exemplo, um drama. 

O mal uso do alívio cômico faz com que o longa se torne muito bobo para um herói que, de um modo ou de outro, possui raízes antigas nos povos nórdicos, que por sua vez, assim como a sua mitologia, tem se tornado cada vez mais objeto de estudo de inúmeros pesquisadores e tema de filmes e séries, como “Vikings” (2013-2020), “O Último Reino” (2015-), e até jogos, como “Assassins Creed: Valhalla” (2020). Logo, torna-se um tanto insuportável a apresentação de Thor, que seria um deus, um ser especial na mitologia nórdica, como um herói que vive de forma abobada. Admito que não é problemático adaptar tais enredos à cultura popular, como se permite fazer a Marvel, mas incomoda a maneira como são conduzidos determinados temas, como, por exemplo, uma cena no filme na qual uma personagem mantém um diálogo com Thor e, mesmo à beira da morte, ocorre uma piada em relação a Valhalla.

O que quero dizer é que tal temática poderia ser bem aproveitada levada por um lado mais sério do que pelo apelo cômico. A importância que se tem em Valhalla e a cultura guerreira dos povos nórdicos faz com que, da maneira que Taika Waititi se propõe a tratar, desconfigura e readapta parte dessa cultura. Portanto, essa seria uma das falhas principais do filme, ou seja, a perda da sensibilidade em reconhecer os momentos certos para utilizar o alívio cômico, justamente para não transformar o longa em um show de piadas.

Outra problemática é que ao assistir “Thor: Amor e Trovão”, podemos ter uma overdose de Guns N’ Roses, dado que muitas cenas, inclusive as principais, que envolvem mais ação, são acompanhadas por músicas da banda. Não acho que as músicas deles sejam ruins, mil vezes não! Contudo, acho que a escolha do filme faz com que se perca um pouco da originalidade, da criatividade sonora. Nas cenas em que as composições aparecem, não sabemos se as escutamos, cantamos junto, se prestamos atenção na cena – enfim, parece que a trilha sonora tira as atenções do conteúdo em si. 

Dessa maneira, acho que “Thor: Amor e Trovão”, de modo geral, tem desagradado muitos fãs da Marvel e o público que não acompanha tão de perto, mas resolveu dar uma chance a filmes de heróis. Depois de uma temática muito mais séria com “Dr. Estranho: No Multiverso da Loucura (2022)”, que foi, sem dúvida alguma, um desafio enorme, tendo em vista a dificuldade de criar um roteiro voltado para o suspense em uma narrativa de herói, explorando todo o possível da personalidade e das questões subjetivas de personagens como Wanda, o solo de Thor caiu novamente no exagero do humor e na superficialidade em explorar os personagens. Infelizmente, o resultado foi muito raso, não se aprofundou, e ao final do longa parece que nada ficou dentro do público.

Por essa razão, Thor: Amor e Trovão (2022) não é uma das principais produções feitas pela Marvel e vai decepcionar parte do seu público. Apesar disso, o herói ainda ocupa as primeiras posições de audiência nos cinemas nos fins de semanas seguintes ao seu lançamento. Para quem não tem muito problema com excesso de humor em filmes de herói, certamente o considerará na média, em um nível razoável para assistir.

 

 

João Carlos Calzavara é graduado do curso de História da UERJ. Acredita na escrita como ferramenta de diálogo entre pessoas e para a troca de conhecimento. Tem interesse em escrever sobre esporte e cultura.

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Excesso de alívio cômico e playlist marcam “Thor: Amor e Trovão”