Por Daniela Menezes Neiva Barcellos | Agosto 2019

Ir além do que experimentamos. Estamos envolvidos num universo que nos remete à fantasia e ao imaginário. Mas sofremos os seus impactos na vida real. Esse universo que nos une a partir de representações e discursos sociais e que, hoje, está em curso, nos lança a reflexões de possibilidades infinitas.

Nos últimos tempos tem-se disseminado estratégias e soluções para questões complexas de todas as ordens. A partir de uma multiplicidade de liberdades e coerções, as moralidades dos embates cotidianos constroem tendências na sociedade de consumo. Somos, portanto, convidados a aderir a uma bandeira, a um emblema, a definir e eliminar elementos consumíveis que representam e dizem de que lado estamos.

Entretanto, num mundo de comunicação fast food e numa sociedade de desempenho calcada pelo poder (Han, 2017), disputas e tensões estariam dilacerando, em muitas instâncias, o lugar do outro nas relações sociais.  Na era da convergência em que vivemos, histórias e narrativas deslocam-se de um lado pra outro tecendo uma rede midiática (Jenkis, 2009). Nas cidades e entre os sujeitos, conteúdos são costurados sob os mais variados interesses, sobretudo os econômicos.

Disputas e acordos silenciosos marcam o espaço urbano derivados de pressuposições que podem funcionar como provas ou evidências do que se pretende iluminar. Na sociedade de sujeitos de desempenho e produção em que vivemos (Han, 2017), narrativas envolvem as urbes e articulam estímulos transformados e iluminados por dispositivos midiáticos. Maximizamos a produtividade em todos os setores, lutamos por algo que nos salve dos riscos e do esgotamento, sofremos a pressão de um desempenho imaginário no real. Para as inquietudes, temos informações, possibilidades de reflexão e soluções prontas para os problemas cotidianos. “O excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e economia da atenção” (Han, 2017, p. 31).  

A violência dos pequenos e grandes acordos selados na cidade produz limites. A partir de uma determinada perspectiva, o alto nível de desempenho constrói o imperativo de certos e errados a seguir e promove um cenário de iguais. Tensões numa sociedade conduzida pelos jogos de poder.

No inferno da homogeneização, códigos, rótulos e modismos tomam as urbes e a nós mesmos, incansavelmente. Como ser sensível às diferenças que alimentam a construção do sujeito e do conhecimento? Para cada apelo, cada motivação, as “invenções rentáveis do bem” têm sempre um discurso, uma imagem, tudo pronto para consumo, alimentando um prêt-à-porter de emoções que nivela, capitaliza e estabelece distinções.

“A tecnocultura ‘ilumina’, deixando fora deste foco partes em geral muito importantes, mas não adequadas à imagem ou não afinadas com o jogo das aparências sociais” (Sodré, 2013, p. 57). Vivemos numa nova ambiência de produtos comunicacionais, interação e modos de ser no mundo. Os códigos que nos incluem e identificam em um determinado lugar de referência podem ser exemplos de violências simbólicas, construídas nas bases de uma realidade ficcional. 

Onde está a verdade? Vivemos em consonância com o mundo real? O que podemos reconhecer é que o essencial pode ser idealizado e vendido como mais um produto de consumo para atender os desejos das urbes.

 

Referências:

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2017.

JENKIS, Henry. Cultura da convergência. Tradução: Suzana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2009.

SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis: Vozes, 2013.

Onde está a verdade?