Por Adelaide Chao | Julho 2019

Há poucos dias, a matéria Reage Rio: para resgatar a alma do carioca, surge o movimento ‘Diga ao Rio que fico’, assinada pelos jornalistas Ludmilla de Lima e Pedro Madeira destacou, aos leitores do jornal O Globo, o apoio do colunista Ancelmo Góis para provocar a cidade à mudança. Ao invés de pular fora para outro país ou cruzar o oceano em busca de “segurança” e “trabalho”, muitos cariocas apaixonados pela cidade decidiram ficar e apostar em iniciativas pela sua melhoria. A proposta do movimento espontâneo surgiu durante um show dos Titãs em meio a um desabafo do guitarrista Tony Belloto, carioca de coração, que declarou “ficar e lutar mesmo com Crivella e Witzel”. Belloto diz se sentir incomodado com a inércia daqueles que ficam só reclamando e prefere agir. O colunista Ancelmo Góes cola na ideia e passa a dedicar um espaço em sua coluna àqueles que queiram declarar seu amor à cidade. O primeiro convidado foi o próprio Tony Belloto que intitulou o movimento de “Diga ao Rio que fico”. Depois dele, vieram nomes conhecidos da cidade como a cantora Fernanda Abreu, o jornalista Fernando Gabeira e o empresário Roberto Medina.

Ok! Ok! A matéria me deixou animada com um sentimento de esperança, mas ao mesmo tempo com a inquietude do fazer, do agir. O movimento “Diga ao Rio que eu fico” é uma boa iniciativa… desde que toda a cidade saia das redes e venha para as ruas. A mudança se faz no cotidiano, nos enfrentamentos das mazelas dos hospitais, dos riscos de segurança nos transportes públicos, na falta de prevenção e preservação de áreas visivelmente em risco e de uma lista quase infinita de problemas sem soluções que poderiam ser descritas aqui. Uma fala do Gabeira ressalta que “a única saída é uma reação da sociedade. É preciso estabelecer o máximo de cooperação para superar dificuldades. Existe muita gente hoje pensando o Rio de Janeiro, sobretudo na questão urbanística”. Preferi seguir o dia com aquele sentimento de resistência e quem sabe, pensar nas minhas ações diárias de melhoria. Vida que segue.

Dias depois, acordo com a matéria do Jornal Extra (01/07/2019) da jornalista Flavia Junqueira, intitulada Reduto do samba, Madureira parece esquecida pela Prefeitura do Rio: escola, restaurante e clínica são abandonados. A reportagem ressalta o descaso e a acelerada degradação do patrimônio público de um dos bairros com maior potencial econômico do subúrbio carioca. A matéria reafirma a indignação dos moradores que lutam para manter aberta uma maternidade pública funcionando há 80 anos, reabrir uma escola municipal e uma estação depredada do BRT, reativar um restaurante popular que teve toda a sua estrutura saqueada e para que o poder público termine as obras de uma clínica da família há tempos interrompida, já que a UPA de Madureira funciona precariamente com a falta de médicos e material necessário há tempos. O comércio local é duramente atingido.

No mesmo dia, uma matéria do jornalista Ben Hur Correia, publicada no site G1 denuncia que parte do Parque Olímpico, localizado na Barra da Tijuca, tem o funcionamento interrompido à população por falta de gestão do governo federal. O contrato com a autarquia que cuidava do parque venceu, não houve substituição e o governo sequer tem um planejamento de administração e gestão do legado olímpico. Ah! O governo federal, diz a nota, “pretende criar um novo órgão para substituir a autarquia, mas ainda não há sinalização de quando e como isso será feito”.

Se apurarmos nosso olhar diariamente encontraremos denúncias, pedidos de socorro sobre o abandono, falta de gestão, segurança e tantas outras controvérsias que atingem a cidade do Rio. A discussão é: o que faremos para além das denúncias? Ler e seguir adiante? O quê – efetivamente – faremos para que o Rio reaja de fato e de direito?

A exemplo de Madureira, coletivos como o Fala Subúrbio e vários grupos de moradores decidiram continuar (e lutar) pela cidade. Aliás, muitos grupos já se mobilizam e lutam no dia-a-dia das ruas contra esses achaques de desprezo. Já tem muita gente fazendo, produzindo. A desejada “alma carioca” tão bem descrita por João do Rio está muito além das “flanagens” pela cidade. Mais que isso, nos instiga a refletir sobre a relação entre o cidadão, a rua e a vida cotidiana. Essa aliança deveria ser da cidade toda, sem negligenciar nenhum território. Somos a cidade.
Fica a dica: dá uma “googada” agora mesmo do seu smartphone e procure ver quem é essa galera que já está reagindo. Tome para si o bordão e “vem pra rua”. O Rio merece e a gente também.

“Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”.

 

Referências
JORNAL O GLOBO
JORNAL EXTRA
PORTAL G1

Reage Rio: das redes à rua, está na hora de fazer a mudança