Por Flávio Lins| Dezembro/2018

Fonte: Youtube

Chama a nossa atenção que este formato, nascido ainda em tempos primitivos e cujo caráter místico parece indissociável,siga se ajustando aos diversos momentos da história, inclusive à evolução das tecnologias. Apesar de Getz (2010) sinalizar que os discursos clássicos não estão dando conta dos últimos estudos sobre o tema, em nossa pesquisa acreditamos que o viés mágico das festas primitivas ainda está presente na essência dos eventos contemporâneos, embora seja necessário observar as transformações pelas quais passam os festivais. Sobre isso, Maussier nos revela que “com o passar dos anos os conteúdos têm se ampliado, assumindo novos significados, dependendo da qualidade artística, da época do ano e do local.

Surgiram assim interesses e ideais laicos, até o ponto de dissociar-se do culto” (MAUSSIER, 2014, p.6, tradução nossa). A autora elenca múltiplos fatores que explicariam o crescimento do número de festivais e a procura do público por estas produções. Seriam eles: a crise das tradicionais instituições culturais (universidade, escola, família); a péssima qualidade dos conteúdos televisivos; o aumento da renda e do tempo livre; a escolarização das massas; o desenvolvimento das tecnologias; a democratização da cultura (MAUSSIER, 2014, p.9).

Embora em Hall (2004) e Bauman (2003, 2005) encontremos indícios dos papéis que assumem os festivais, para Maussier (2014), os festivais tornaram-se uma espécie de substituto das universidades. Ou seja, lugares para aprender, que sem serem admitidos nas estatísticas de instrução oficiais “oferecem trabalho, cultura e bem-estar, educando para o ócio criativo, se encarregando do nosso crescimento intelectual e da nossa felicidade (MAUSSIER, 2014, p. XVIII, tradução nossa).

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Assim, a festivalização da cultura e das cidades, mesmo valendo-se de uma fórmula que remonta a tempos imemoriais, metamorfoseia-se em pedra angular da sociedade contemporânea, dado à capacidade mimética destas iniciativas se ajustarem e se confundirem com o tempo e o lugar em que se manifestam, capazes de seduzir e atrair para festivais de conteúdos inusitados. Se a origem destes e dos homens sobre a terra se confundem, esse modo de dizer natural confirma-se como formato eficaz para persecução de diversos objetivos com ampla possibilidade de sucesso, ainda que não existam garantias, dado que o homem e a urbe seguem em transformação.

 

 

 

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

GETZ, Donald. The nature and scope of festival studies. International Journal of Event Management Research, v. 5, nº 1, p.1-47, 2010.

MAUSSIER, Barbara. Festival management e destinazione turistica. Milão: Hoepli, 2014.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

A magia dos festivais