Por Daniela Menezes Neiva Barcellos | Setembro/2018

A cidade, revestida de seus imaginários, é palco que ressignifica, cotidianamente, fenômenos comunicacionais.  A alimentação saudável é um deles. O que se quer comer é a grande questão.Reafirma e  reestrutura relações sociais, além de promover o entrelaçamento entre representações, imaginários, fatos sociais, consumos e tendências. Todos elementos estratégicos da comunicação no espaço urbano.

O fluxo intenso de conteúdos sobre alimentação saudável nas mídias afeta as práticas de consumos alimentares e dá sentido aos nossos posicionamentos simbólicos no convívio social. Esses pequenos acordos que negociamos, criam novas sensibilidades que nos constituem e legitimam na metrópole midiatizada e insuflada pelos valores de um estilo de vida dito saudável, permeado de conflitos e paradoxos.

Modelos construídos e imersos no imaginário social são incorporados nas mídias e ganham força em nosso meio. Representações dotadas de símbolos criam tendências que afetam e reconfiguram práticas, constroem novas realidades e buscam soluções para questões do cotidiano. Um universo de significação irrompe os discursos midiáticos acerca do saudável provocando afetos e desejos. Dos programas de TV às fotos na internet, estamos diante de uma profusão de estímulos para comer, cozinhar, fotografar, compartilhar, comentar e, sobretudo, estabelecer códigos de distinção social que localizam o indivíduo em seu contexto. “O que está em jogo é precisamente a ‘personalidade’, ou seja, a qualidade da pessoa, que se afirma na capacidade de apropriar-se de um objeto de qualidade” (BOURDIEU, 2013, p. 263).

Somos consumidores e produtores de representações. Mídia e sociedade retroalimentam-se na trama do imaginário, espaço de produção de subjetividades. Segundo Giddens (2002, p. 174), “todos os indivíduos incorporam seletivamente, de maneira ativa, ainda que nem sempre de maneira consciente, muitos elementos da experiência transmitida pela mídia à sua conduta no dia-a-dia”. Diferentes apelos midiáticos atendem às distintas partes de nós e afetam os consumos de bens e serviços, de estilos de vida e de códigos de distinção.

A diversidade está em cada discurso na cidade. Múltiplos sentidos e significados da alimentação saudável transitam ora em um lugar, ora em outro, e estruturam relações sociais. Compreender a relação entre a comunicação e a alimentação é fundamental para atuarmos com conhecimento e compromisso por meio de escolhas que atendam às demandas do que é saudável para nós, a fim de criarmos novas oportunidades de reflexão e ação.

Referências

BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento. Tradução:  Daniela Kern; J. F. Teixeira. Porto Alegre: Zouk, 2013.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.