22/01/2025
Nos últimos dias, assistimos a uma comoção nacional devido às polêmicas em torno da taxação do PIX. A Comunicação Social esteve no centro das atenções. Da parte do Executivo brasileiro, a comunicação foi considerada ineficaz pela opinião pública; já do lado dos inimigos do governo, a comunicação foi a maior aliada, com um número expressivo de fake news em vários formatos para as redes sociais. Essa estratégia elevou, inclusive, um deputado de extrema-direita a recordista de visualizações e compartilhamentos no Instagram e no X com um vídeo pouco didático sobre as novas medidas.
A relevância da polêmica reside no fato que, nos últimos anos, as fintechs e o PIX possibilitaram milhões de brasileiros de baixa renda e pequenos empreendedores a entrarem e permanecerem no sistema financeiro nacional. Embora o governo tenha se equivocado no tom e no timing do anúncio das novas regras, o erro maior foi, novamente, não perceber quais pautas sensíveis são objeto de imediata reação, via redes sociais, da oposição, especialmente dos setores políticos que torcem contra o governo atual e estão sempre à espera de algum deslize para poder ridicularizar o Presidente eleito e/ou seus ministros.
Muitas vezes, o maior problema na comunicação não está em quem a elabora ou a distribui, mas, sim, em quem a solicita ou, mais grave ainda, em quem não a solicita, por considerar os setores de Comunicação Social irrelevantes ou por achar que os profissionais de comunicação institucional têm a obrigação de tudo saber, até mesmo os assuntos sigilosos de cada gabinete.
Afinal, a culpa é da comunicação. Outra argumentação recorrente é: a instituição não sabe se comunicar. Efetivamente isso pode acontecer, mas o que percebemos nas últimas décadas é uma extrema falta de preparo dos gestores em saber pautar suas assessorias e agências de Comunicação em tempo certo. Outro problema muito comum dos executivos brasileiros é a falta de entendimento sobre a importância de participar ativamente da elaboração do plano de Comunicação para cada período de gestão.
Os cursos de gestão de nível superior ou de pós-graduação deveriam incluir disciplinas de Comunicação Pública, assim como de Relações Públicas, na formação de executivos de diferentes carreiras, seja na área da saúde, da educação, da segurança, dos transportes ou de qualquer outra área essencial ao bem-estar da população. A valorização dessas áreas de estudos contemplaria uma necessária habilidade no tratamento das informações e da gestão de crises. A comunicação pública, ou seja, toda a comunicação que é de interesse público, não pode ficar refém da comunicação reacionária que se baseia em retrocessos alinhados a crenças e valores tradicionais e hierárquicos contrários à plena democracia.
Ricardo Ferreira Freitas é coordenador do LACON, profissional de Relações Públicas e professor titular da Faculdade de Comunicação Social da Uerj.