No dia 2 de setembro aconteceu o evento Centenário Paulo Freire, organizado pelo Laboratório de Comunicação, Cidade e Consumo em parceria com a Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp). O evento foi transmitido no canal do YouTube da Abrapcorp e também está disponível no canal do Lacon.

Com a proposta de debater a importância e atualidade do pensamento do educador Paulo Freire (1921-1997) para as áreas da Comunicação e das Ciências Humanas e Sociais, o evento contou com duas mesas.

O evento teve início com Patrícia Miranda, professora e diretora da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, dando as boas-vindas ao público.

Em seguida, Venício de Lima, professor emérito da Universidade de Brasília, conferiu a palestra de abertura. A mesa teve a mediação de Raquel Paiva, professora emérita da UFRJ e pesquisadora visitante da Faculdade de Comunicação Social da UERJ.

Em sua fala, Venício descreveu Freire como um humanista que acreditava na educação como prática da liberdade:

“O compromisso de Paulo, na verdade, era com a liberdade do homem. É exatamente esse o humanismo. Acreditar no homem, acreditar na capacidade do homem de construir, de criar seu próprio mundo. O mundo da cultura e o mundo da história. E transformar junto com os outros este mundo”, disse Venício.

A segunda mesa “A atualidade do pensamento de Paulo Freire para a Comunicação” contou com apresentações de Nita Freire (educadora, doutora em Educação pela PUC/SP, professora honorária da Universidade Nacional de Lanús [Argentina], doutora honoris causa pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e vencedora do Prêmio Jabuti) e Raquel Paiva. A mediação foi realizada por Cicilia Peruzzo, professora visitante do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UERJ.

Nita Freire, que foi casada com Paulo Freire e é a sucessora legal do autor, falou sobre sua história de vida e de seus ideais relacionados à educação. Nita contou que Paulo sempre quis ser professor, principalmente porque era muito sensível em relação às desigualdades presentes na sociedade brasileira. A base da metodologia pedagógica de Freire era que o conhecimento é aprendido coletivamente, mas também individualmente, subjetivamente:

“Ele [Paulo] dizia assim ‘eu não admito um professor que não saiba amar os seus alunos, que não saiba amar aquele conteúdo que ele vai ensinar’. Que não saiba amar aquela forma, aquela metodologia, que ele vai usar para, dialeticamente, em diálogo, ensinando e aprendendo, provocar que cada um de nós, subjetivamente, produzamos o conhecimento”, relembrou Nita.

Para Paulo, a educação deveria ter uma conexão com a realidade dos indivíduos, especialmente daqueles que pertenciam às camadas desprezadas do Brasil. À época, as cartilhas de alfabetização não levavam em consideração as referências culturais dos alunos. Uma frase muito comum nessas cartilhas era “Eva viu a uva”. De acordo com Nita, naquele momento, os alunos nordestinos não conheciam a uva, pois não era uma fruta consumida na região. Paulo, então, propôs a ideia de que “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”, construindo um método de alfabetização conectado ao cotidiano:

“Ele reunia linguistas, sociólogos e filósofos e fazia reuniões com grupos de pessoas que iam se alfabetizar, tinha uma conversação e eram anotadas as palavras mais faladas. E Paulo dizia uma coisa tão óbvia: ‘A gente sabe muito mais aquilo que a gente já sabe’. Então, se eu vou aprender a escrever, eu não vou começar com ‘inadimplentes’. […] Tem que começar com as coisas do todo dia, com o barco, com o tijolo, com a casa”, relatou Nita.

Já Raquel Paiva abordou o evento conhecido como “40 horas de Angicos”. Essa experiência de educação popular, conduzida por Paulo Freire em 1963, promoveu a alfabetização de 300 adultos da cidade de Angicos, localizada no sertão do Rio Grande do Norte, em 40 horas – 75% da população local era analfabeta. Aquele foi o momento de consagração do método educacional freireano:

“A experiência de Angicos permanece como a referência para todo mundo, não apenas de um método de alfabetização, mas pelo conjunto da sua obra, basicamente voltada para a igualdade social, tendo como ponto de partida a educação”, apontou Raquel.

Raquel Paiva também destacou a importância de “Angicos” para a Comunicação, tema que ainda não é muito discutido na área. Para a professora e pesquisadora, essa experiência é um assunto importante para a Comunicação não apenas por ter sido matéria em jornais de todo o mundo na época e por ter utilizado instrumentos como retroprojetores (algo não tão comum naquele momento) e ilustrações de grandes artistas plásticos do país (Francisco Brennand, por exemplo), mas também por “estar assentada na proposta do diálogo entre culturas como processo a ser construído”.

 

Confira o vídeo da conferência de abertura:

 

Assista à mesa “A atualidade do pensamento de Paulo Freire para a Comunicação”:

 

Débora Gauziski | Setembro 2021

Confira como foi o evento Centenário Paulo Freire