Por Ângelo Duarte| Outubro/2018

O britânico Roger Walters, 75, está em turnê no país. Hoje, ao lado da UERJ, seu palco vai estar montado no Estádio Mário Filho, Maracanã. O músico foi líder da banda Pink Floyd, dos anos 60 ao início da década de 1980. Suas apresentações sempre trazem um caráter político. No Pink Floyd, quem não se lembra do trabalho The Wall? Lançado como álbum duplo, em 1979, uma ópera rock, com um personagem baseado em Waters, que perde seu pai durante a Segunda Guerra Mundial, um menino ridicularizado e abusado por seus professores, sua mãe superprotetora e, por fim, uma crise conjugal. O muro representa uma auto imposta isolação da sociedade – uma parede metafórica era construída no palco e, no final da apresentação, destruída. “Another Brick in The Wall, Part 2” foi o single lançado. E o trabalho vendeu 11,5 milhões de unidades nos Estados Unidos.

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Figura: CD Duplo The Wall. Fonte: Amazon UK

No último dia 9, em São Paulo, Roger Waters exibiu #elenão no telão. O momento recebeu vaias e aplausos. Um reflexo da atual divisão no país, de um lado as forças representadas pela esquerda e de outro, um “salvador da pátria”, mais identificado com o neofascismo.

Entrevistado pelo repórter da Folha de São Paulo, Thales de Menezes, publicado no dia 21 de outubro, Roger acredita que a reação do público chamou a atenção para o que a turnê está tentando dizer, sobre como os direitos humanos precisam da cooperação de cidadãos, sendo isso que a turnê “Us & Them” apresenta. Existe uma mensagem particular nas canções, o que gera controvérsia. Roger parece entender essa divisão no Brasil. Ele nota uma separação severa no mundo entre ricos e pobres, não só em terras brasileiras. Mas, para o músico britânico, em São Paulo, passeando pelas ruas, notava casas bonitas e ricas cercadas por grades, com guardas de vigilância e centenas de câmeras. Em cem metros, observou Roger, pessoas morando sobre papelão molhado, na sarjeta. Na visão do músico, os pobres foram prejudicados pelo neoliberalismo, pela globalização da economia, que nunca regulou oportunidades para os indivíduos.

Na entrevista, Roger Waters agradece as vaias em São Paulo, mas lamenta que os brasileiros estejam brigando uns com os outros, discutindo coisas fundamentais sob a ótica de alguém como Bolsonaro. Waters pensa que o que o ex-capitão do exército fala não deveria ser assunto para nenhuma argumentação em qualquer lugar do mundo. Para o britânico, é uma coisa realmente assustadora. Como se derrubasse muros, o ex-líder do Pink Floyd vai mais longe na entrevista em sua crítica ao candidato: louco, vingativo e insano. “Vai militarizar a polícia, deixar tudo mais difícil para as classes trabalhadoras, grito isso para quem quiser ouvir, é o que vai acontecer se esse cara for eleito”.

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Fonte: Extra Online

Além das vaias Roger Waters foi criticado pelo ministro da Cultura do Brasil, Sérgio Sá Leitão. Na semana do show, disse estar de “saco cheio” de manifestações políticas em shows. O britânico não deixa por menos e pergunta se esse cara está no emprego certo? Para Waters, Sá Leitão não deveria estar numa posição de poder sobre questões culturais dando uma declaração dessas. Concluindo o assunto, o músico acredita que um show de rock pode ser especial, um instante transcendente. Alfinetando o nosso atual ministro da Cultura.

A entrevista com o músico termina quando perguntado sobre o que espera destes últimos shows, antes das eleições. Roger pensa que as eleições são importantes, mas lembra que a Alemanha, no final da década de 30, elegeu Hitler como uma coisa nova na política. Ele questiona: “Nós precisamos desse cara! Sério? Mesmo?”.

Roger Waters versus #elenão: música, política e resistência