Por Adriana Guimarães Moreira | Setembro/2018

Fonte: Folha do Mate

Concebidos para receber milhares de jornalistas de vários países do mundo, os centros de imprensa são uma tradição dos Jogos Olímpicos. São espaços que, considerando o campo da comunicação organizacional, proposto por Kunsch (2003, p.367), se caracterizam como um projeto de relações públicas, uma vez que sua elaboração leva em conta ações executadas, objetivos definidos, procedimentos metodológicos e alocação de recursos para a sua implantação. Atraídos primeiramente pelo espetáculo midiático das competições esportivas, os profissionais também procuram conhecer a cultura da cidade-sede. Os hábitos, os costumes, a culinária, a arte, a música, o cotidiano e os modos de fazer locais despertam o interesse jornalístico e impressionam o olhar de quem vem de fora. Muito mais do que oferecer uma instalação física com estrutura necessária para a produção e a transmissão da cobertura do megaevento, os centros de imprensa são ferramentas de comunicação da cidade com o grande público por meio da mídia.

Mas como estes espaços podem apresentar a cultura local sem seguir a lógica linear das assessorias de imprensa? Releases e fotos, por mais explicativos que sejam, não conseguem dimensioná-la. Vamos pensar, então, nos jornalistas, principalmente nos estrangeiros, que desembarcaram no Rio para a Olimpíada de 2016. Muitos estiveram na cidade pela primeira vez. Como explicar o sabor marcante da caipirinha e fazer entender que a bebida é uma das principais referências da identidade nacional? O que dizer da paçoca de carne de sol? E do forró? Compartilhar as experiências se faz necessário para a compreensão dos sabores e dos saberes (CERTEAU, 2014).

Foi assim que a gastronomia brasileira associada a outras manifestações artísticas foi incluída na programação do Rio Media Center (RMC), centro de imprensa da cidade para os Jogos Olímpicos, como agente comunicacional para valorizar a identidade nacional durante o megaevento.  Em minha pesquisa, busco compreender, entre outros pontos, como o Rio de Janeiro construiu esta mediação, utilizando conexões culturais locais em um evento global, para atender a uma estratégia de comunicação que teve como principal objetivo valorizar a imagem de um projeto de cidade transformada para a Olimpíada. Meus estudos mostram que ideia de discurso está ligada à apreensão da linguagem como prática social para a produção de sentido. Por isso, não se pode entender que a mensagem ou a informação estão baseadas em códigos puramente linguísticos. O sistema de significação afeta diretamente o sujeito que fala. Portanto, a produção dos discursos organizacionais caminha em direção para que os enunciados correspondam a determinada significação a favor da própria organização. Se, por um lado, as experiências de degustação compartilhadas coletivamente entre os jornalistas do RMC valorizam a culinária e a arte popular como patrimônios brasileiros, por outro, a mediação pela cultura da nossa sociedade sugere que este mecanismo pode ter sido criado com o objetivo de envolver os profissionais de imprensa para outro fim.

Fonte: Rio Media Center.

 

Referências bibliográficas

CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: 1. Artes do fazer. Petrópolis: Vozes, 2014.

KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. 4a ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Summus, 2003.

Comida e cultura brasileira: vitrines do Rio Media Center