Carolina de Vasconcelos | Janeiro 2022
Em 2016, a empresa norte-americana Mattel, criadora da boneca Barbie, lançou uma nova linha da coleção Fashionistas, que inovou ao ser seu lançamento mais diverso até então. As bonecas passaram a apresentar três biotipos corporais diferentes da original: curvilínea, alta e baixa. Além disso, as Barbies vinham em 7 tonalidades de pele, 22 cores de olhos e 24 tipos de cabelo. Quatro anos depois, a coleção Fashionistas de 2020 trouxe ainda mais diversidade ao plano, incluindo em seu catálogo uma boneca com vitiligo, uma sem cabelos, outra com uma prótese dourada no lugar da perna.
Fenômenos como o observado através do icônico brinquedo da Mattel indicam uma mudança na forma como as grandes corporações se associam à pauta da diversidade. Se antes qualquer manifestação política e um gesto mínimo de ativismo afastavam patrocinadores, hoje vivemos uma realidade na qual isso caminha para pertencer ao passado. Agora mais do que em qualquer outro momento, as marcas estão abraçando causas voltadas à defesa dos direitos da população LGBTQIA+, ao antirracismo, aos direitos das mulheres, das pessoas com deficiência. A valorização da inclusão e da autenticidade se torna uma estratégia cada vez mais priorizada para ampliar o alcance de seus produtos a fim de atingir públicos maiores. Assim, o respeito à diversidade deixou de ser uma questão de valores apenas morais, mas também, financeiros.
Diante disso, as opiniões acerca da verdadeira intenção por trás da utilização desses novos recursos de comunicação e marketing são múltiplas. Enquanto ainda há muito a ser criticado, não é possível negar a importância que a representação de grupos sociais minoritários na mídia tradicional possui na formação de uma identidade social e na construção do sentimento de pertencimento e orgulho. Conseguimos testemunhar cada vez mais grupos conquistando espaços que antes lhes foram negados e mudando essa realidade para gerações futuras, uma vez que a transformação dos âmbitos sociais só é possível através da ocupação desses mesmos.
Mas por que necessitamos tanto nos ver representados por partes de grandes empresas se essas próprias corporações são responsáveis por danos ambientais gigantescos, violações de direitos trabalhistas ao redor do globo, entre outras incontáveis mazelas contemporâneas? É realmente possível existir uma separação entre a representatividade genuína e a margem para o lucro na lógica capitalista na qual fomos involuntariamente inseridos?
A questão é que, enquanto sociedade, dependemos de marcas a vida inteira. Desde as necessidades mais básicas do ser humano, como alimentação e saúde, até a satisfação de desejos de ostentação, necessitamos de marcas para sobreviver, para facilitar a vida cotidiana, para aumentar o conforto. Esses serviços existem para atender às demandas da população, e dessa forma, devem adequar-se à pluralidade. Ao promover a diversidade, também interessa certificar-se de que esse princípio não direcione somente as estratégias de publicidade como também as decisões dentro dos próprios ambientes de trabalho e os serviços prestados às pessoas, de maneira que se construa uma representatividade mais verdadeira e condizente com a realidade dos públicos.
Referências bibliográficas:
Carolina de Vasconcelos é estudante de Jornalismo na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Contato: carolinavcsta@gmail.com