Rafael Nacif | Julho 2021

Nos anos 80, em São Paulo, apareceram diversos grupos, com estilos diferenciados, articulados através da música, das roupas, dos adereços, das formas de lazer. Os pioneiros foram os punks, depois surgiram os metaleiros, carecas, darks, rastafáris, rappers e outros. Todos esses grupos chamaram a atenção pela agressividade real e simbólica de seus comportamentos, pelo pessimismo, pela elaboração da imagem, privilegiamento do lazer e dos produtos culturais. Eles nasceram a partir do reconhecimento da juventude como classe social, que se deu após a segunda grande guerra, devido a valorização do tempo livre do trabalhador, estimulada com a divulgação mundial das leis trabalhistas (ex.: diminuição da jornada de trabalho). Seus antecedentes podem ser reconhecidos nos chamados teddy boys (Teddy era o apelido do príncipe Edward), rapazes da classe operária londrina que, ao se vestirem, misturavam peças de diferentes ternos, e usavam gravatas mostrando os rostos de famosos atores de filmes de cowboy. Outros exemplos posteriores são os skinheads, os mods, rockers…

O movimento punk surge, inicialmente, como uma mobilização musical contra o estrelismo do rock progressivo dos anos 70 (Pink Floyd, por exemplo) que exigia uma grande infraestrutura empresarial e financeira. Seu lema era: “Do it yourself!“ (Faça você mesmo!). Essa proposta conquista a adesão de jovens de classes trabalhadoras dos subúrbios ingleses, envolvidos na crise de desemprego gerada pela política de privatização de Margareth Tatcher. Sentiam-se estagnados, exilados socialmente, sem dinheiro e sem emprego. Outro lema seria : “ No future! “ (Sem futuro! – afirmação realista, demonstração de preocupação com a contemporaneidade). Adotaram a ideologia anarquista.

O movimento chegou a São Paulo através da música de bandas inglesas, como Sex Pistols e The Clash, e da banda americana Ramones. Já os darks tinham uma preocupação mais incisiva de montar um espetáculo que chamasse a atenção para seus desencantos e para a aproximação do apocalipse. Esses jovens formavam uma tribo singular, com sinais de identidade, locais de encontro, um imaginário e um discurso peculiares. Não se atribuíram um nome, nem se afirmaram como um grupo. A aglutinação deu-se em torno da música e da formação de bandas : o tipo de som e a temática das letras compunham um estilo reconhecível, diferenciado dos outros, que ficou conhecido como rock paulista. A imprensa acabou por batizá-los de darks. Foram influenciados por bandas inglesas como The Cure, Joy Division e Siouxsie and the Banshees.

________________________

Rafael Nacif é doutor em Comunicação (PPGCom/UERJ) e Relações Públicas (FCS/UERJ).

Para explicar os punks