Alessandra Porto é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCom/UERJ) e professora nas áreas de Comunicação Organizacional, Marketing, Pesquisa de Marketing e Promoção de Vendas e Merchandising no IBMEC. Possui graduação em Comunicação Social/Relações Públicas e mestrado em Comunicação, ambos pela UERJ.

No mestrado, Alessandra abordou os imaginários e estilos de vida constituídos em torno do hotel Copacabana Palace. Em seu projeto de doutorado, tem pesquisado os processos comunicacionais e as produções de sentido desenvolvidas por jovens no bairro de Copacabana.

Alessandra Porto também foi uma das palestrantes convidadas para o seminário “imaginaRIO: pensando a cidade pós-megaeventos” e agora vai nos contar um pouco mais sobre suas pesquisas e trajetória acadêmica.

 

1- Para começarmos, diga-nos o que motivou ou levou a escolha de adotar o bairro de Copacabana como objeto de pesquisa?

Tenho uma relação de afeto com o bairro, pois os meus falecidos pais se conheceram lá. Desse modo, sempre desejei desenvolver pesquisas que envolvessem Copacabana. Além do mais, é um bairro icônico para o Rio de Janeiro, com expressão em todo o Brasil e no mundo. E quando fui aprovada no processo seletivo para o Mestrado no PPGCOM/UERJ, pude tornar meu desejo realidade – e finalmente comecei a pesquisar a “Princesinha do Mar”.

Fonte: Copa Sul Hotel

2- Quais são as peculiaridades – sociais, culturais, históricas, econômicas, etc – que tornam Copacabana diferente dos demais bairros da cidade? E o que também faz dela comum e corriqueira como outros lugares?

Copacabana oferece uma proposta intercultural de zona sul carioca. Ou seja: são vários bairros em um só, onde circulam e convivem diversas tribos e variados estilos de vida. Durante as minhas pesquisas, levantei algumas informações que a comparam com Madureira. E até descobri que existem memes que dizem: “Copacabana é Madureira com praia!

Cabe registrar também que, segundo o último censo demográfico do IBGE, Copacabana é o bairro que concentra o maior número absoluto de idosos entre os bairros do país. São 43.431 moradores com 60 anos ou mais, quase um terço da população do bairro[1]. Todavia, o bairro possui locais para todos os gostos, idades e tribos.

Copacabana possui todas as mazelas encontradas em outros bairros da cidade. Violência, desordem urbana (e, principalmente, problemas que refletem a atual situação de crise do Estado do Rio de Janeiro) estão presentes no bairro – como o crescente e triste aumento da população de rua, por exemplo.

3- Dando continuidade à pergunta anterior, quais são os imaginários construídos, disseminados e vivenciados pelos residentes e frequentadores de Copacabana?

Na dissertação de Mestrado “Copacabana Palace: imaginário, consumo e estilos de vida no palácio da Princesinha do Mar”, investiguei o imaginário dos idosos que vivenciaram a sua juventude no hotel[2]. Pude perceber que o local foi espaço de importantes experiências para alguns dos meus entrevistados, compondo suas histórias e memórias de vida. Um dos entrevistados relatou que dançou pela primeira vez com a sua atual esposa nos salões do Copacabana Palace, em um baile de debutantes realizado na década de 50 (conhecida como “anos dourados”). Já os múltiplos imaginários acerca do bairro de Copacabana é o tema da minha pesquisa de Doutorado, que ainda está em andamento.

Fonte: Veja Rio

4- Como as pessoas causam efeito e são afetadas pelas múltiplas narrativas que atravessam as areias e ruas de Copacabana? Quem são os agentes e os processos que se envolvem nesse lugar e qual é o nosso papel individual no estabelecimento dessas relações?

Tais questões serão investigadas durante a elaboração da futura tese de Doutorado. A minha pesquisa de Mestrado possuiu ênfase no hotel Copacabana Palace.

5- No que se baseia e como podemos perceber o “espírito” de Copacabana, que você mencionou em recente palestra no seminário “imaginaRIO: pensando a cidade pós-megaeventos”? Ele é coletivo ou individual? Pertence ao lugar ou às pessoas?

Durante a pesquisa de campo de caráter qualitativo que realizei no Mestrado, observei junto ao público entrevistado (idosos) que Copacabana permanece como berço da modernidade nas memórias individuais de cada um. Para tais indivíduos, o “espírito de Copacabana” ainda remete aos encantos da modernidade (onde o hotel aparece como ícone). Na perspectiva maffesoliana, Copacabana é simultaneamente um lugar e um espírito (MAFFESOLI, 2004).

E em relação à investigação junto aos demais públicos (em especial, os jovens), ainda estou em fase de pesquisa doutoral. Todavia, em alguns trabalhos de campo realizados em 2018 para a futura tese, observei algumas novidades referentes ao “espírito de Copacabana”.

Mas prefiro não “dar spoiler”… 😉

6- Qual a importância do hotel Copacabana Palace para a história e o desenvolvimento do bairro? Que aspectos do bairro são legado da presença desse hotel de luxo?

Prestes a completar 96 anos em agosto de 2019, o Copacabana Palace permanece como uma espécie de “cartão postal” e sinônimo de consumo de luxo na cidade do Rio de Janeiro. Turistas nacionais e internacionais fazem questão de parar em frente ao hotel para tirar selfies. Eventos são realizados tendo como ponto de encontro a parte frontal do hotel (situada na Avenida Atlântica). Muitas vezes definido como “moderno” pela mídia – e simultaneamente posicionado como “contemporâneo” pelos seus executivos -, tudo que diz respeito ao “Copa”[3] costuma gerar polêmicas. Em fevereiro de 2014, o grupo Orient-Express (então proprietário do hotel) mudou o seu nome para Belmond Copacabana Palace. Belmond é a marca internacional do grupo no segmento de hotéis de luxo. Tal fato gerou forte mobilização; e, na ocasião, foi criado um grupo no Facebook: “Diga não à mudança do nome do Copacabana Palace!” . Em dezembro de 2018, o hotel mudou novamente de mãos. O grupo Louis Vuitton comprou o Copacabana Palace e demais hotéis da rede Belmond por US$ 3,2 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões)[4] – o que gerou nova mobilização na mídia e nas redes sociais acerca do “Copa”.

Fonte: Hotel Urbano

Notas:

[1] Disponível em: < https://censo2010.ibge.gov.br/> Acesso em: 08 jan. 2019.

[2] Os idosos entrevistados não necessariamente residem no bairro.

[3] “Copa” é o apelido dado ao hotel Copacabana Palace.

[4] Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/12/17/louis-vuitton-compra-do-copacabana-palace-e-demais-hoteis-da-rede-belmond-em-transacao-de-us-32-bilhoes.ghtml> Acesso em: 11 fev. 2019.

Referências:

MAFFESOLI, Michel. Notas sobre a pós-modernidade: O lugar faz o elo. Rio de Janeiro: Atlântica, 2004.

Entrevista com Alessandra Porto – Copacabana, a Princesinha do Mar