No dia 13 de junho, o Laboratório de Comunicação, Cidade e Consumo realizará o seminário Marx & Mídia: o legado do autor para a Comunicação. Um dos convidados para compor a mesa desse evento é Roberto Vilela Elias. Roberto é mestre em Comunicação Social pela UERJ e especialista em Política e Planejamento Urbano pelo IPPUR-UFRJ. Na entrevista abaixo, o pesquisador nos conta um pouco sobre a relação entre a obra de Karl Marx e os estudos da Comunicação.

 

Na sua opinião, qual a contribuição da obra de Marx para as ciências humanas?

Marx ao propor um novo método de compreensão da História, com a ideia expressa no “materialismo histórico”, enseja uma forma muito mais objetiva de se compreender as contradições do capitalismo (se comparada aos socialistas utópicos), bem como a proposição de um método para a sua superação.
De uma maneira excessivamente objetiva e com todas as licenças poéticas, costumo dizer que Marx foi uma espécie de Nelson Rodrigues, pois, assim como o dramaturgo carioca conseguiu expor os meandros da vida privada, o filósofo alemão expôs detalhadamente as entranhas do sistema capitalista.

Partindo do título do evento, como você analisa a obra do autor com a nossa conjuntura atual?

Quando pensamos a questão do consumo aliada à potência e à rapidez dos meios de comunicação de massa atualmente, conceitos como “fetiche da mercadoria”, “valor de uso” e “valor de troca” são fundamentais para compreendermos um âmbito cultural que faz toda a diferença quando pretendemos entender comportamentos, preferências e subjetividades do indivíduo em seu quotidiano.
É muito comum pensarmos a abordagem marxiana sob um viés meramente economicista, mas há uma pegada cultural muito forte em sua obra e pouco debatida.

A obra de Marx alcança vários ramos de conhecimento, como você observa a relevância dos ideais do autor para sua pesquisa de megaeventos?

Diria que principalmente no tocante à espetacularização desses certames com um viés comercial. Guy Debord traduz muito bem essa ideia quando fala da “Sociedade do Espetáculo”. Um segundo aspecto seria a mercantilização do espaço público. Em cidades como o Rio de Janeiro, que, historicamente, aliam o seu desenvolvimento econômico à realização de eventos internacionais de grande magnitude, os processos de gentrificação ilustram essa dinâmica. Recentemente com a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, projetos como o Porto Maravilha e o crescimento exponencial de empreendimentos imobiliários na Barra da Tijuca, avançando sobre localidades de Jacarepaguá (como Curicica), removendo comunidades (como a Vila Autódromo) e a própria destruição do Autódromo de Jacarepaguá para dar lugar ao Parque Olímpico, apontam para essa ressignificação e revalorização de certos locais a fim de atender os interesses de grandes incorporadoras e construtoras.

Como você acredita que o pensamento do autor contribui para a contemporaneidade?

O pensamento marxiano contribui com a interpretação das desigualdades sociais, com a compreensão de suas motivações e, notadamente, sobre o que fazer para buscarmos uma sociedade menos injusta. Obras como O Capital e Grundrisse propõe uma análise econômica atemporal do modo de produção capitalista.

Entrevista com Roberto Vilela: o legado de Marx para os estudos da Comunicação